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Pesquisadores buscam respostas sobre os efeitos da microdosagem de psicodélicos na saúde


A microdosagem de psicodélicos, como cogumelos com psilocibina ou LSD, está ganhando popularidade entre pessoas que buscam bem-estar. Pesquisadores tentam entender potencial de microdoses

AP/Lindsey Wasson

A microdosagem está ganhando popularidade entre uma nova geração de pessoas em busca de bem-estar. Esses autoexperimentadores consomem quantidades muito pequenas de cogumelos com psilocibina ou LSD na tentativa de aliviar sintomas de ansiedade, estresse e depressão.

Não se trata de uma viagem psicodélica completa — nem de perto. Se houver visões, não é uma microdose. Quem pratica a microdosagem não a faz diariamente, mas em pequenas doses intermitentes, seguindo um cronograma ou conforme sente que pode ser benéfico.

Um pequeno estudo sugere que quaisquer benefícios psicológicos podem estar ligados às expectativas dos usuários — o chamado efeito placebo. Mas a ciência ainda é recente, e novas pesquisas estão em andamento.

Embora essas substâncias sejam ilegais na maioria dos países, uma onda de estudos científicos sobre os possíveis benefícios de experiências psicodélicas supervisionadas levou estados como Oregon e Colorado, nos Estados Unidos, a legalizarem a terapia com psicodélicos.

O que relatam os usuários de microdosagem?

“Comecei a microdosar e, em poucos meses, tive uma sensação geral de bem-estar que não sentia há muito tempo”, disse Matt Metzger, veterano do Corpo de Fuzileiros Navais.

Ele cultiva seus próprios cogumelos em Olympia, Washington, onde a psilocibina foi descriminalizada. Segundo ele, tomar pequenas doses o ajuda a lidar com o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Em Loveland, Colorado, Aubrie Gates afirma que a microdosagem de psilocibina a tornou uma mãe melhor e aumentou sua criatividade.

“Isso faz você sentir visceralmente no corpo uma nova maneira de ser — uma maneira mais saudável de ser”, disse Gates. “Em vez de apenas pensar com a mente consciente: ‘Ah, preciso estar mais presente’, você sente como é estar mais presente.”

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O que diz a ciência sobre a microdosagem?

Cientistas que estudam microdosagem dizem que relatos como esses são difíceis de medir em laboratório.

Para começar, a crença desempenha um papel tão central na experiência que cápsulas vazias podem provocar os mesmos efeitos.

Em um estudo com pessoas que usavam microdoses, os participantes só souberam depois se haviam passado quatro semanas tomando a substância habitual ou placebos. Os indicadores psicológicos melhoraram em todos os participantes — independentemente de estarem tomando microdoses reais ou cápsulas vazias.

“Parece que eu estava de fato tomando placebos durante todo o estudo. Estou bastante surpreso”, escreveu um dos voluntários. “Parece que consegui gerar uma poderosa experiência de 'consciência alterada' apenas com base na expectativa em torno da possibilidade de uma microdose.”

Segundo uma revisão de pequenos ensaios clínicos com placebo, cientistas não encontraram efeitos duradouros na criatividade ou na cognição com microdosagens de LSD.

Um estudo limitado apontou sinais de aumento no vigor e na euforia com pequenas doses de LSD entre pessoas com depressão leve, quando comparadas a um placebo.

“Pode funcionar apenas para algumas pessoas e não para outras, o que dificulta sua medição em condições de laboratório”, afirmou Harriet de Wit, pesquisadora em neurociência da Universidade de Chicago e líder do estudo.

O potencial levou uma empresa australiana a conduzir testes iniciais de microdoses de LSD para tratar depressão grave e pacientes com câncer que vivenciam desespero.

Enquanto isso, poucos estudos rigorosos sobre microdosagem de psilocibina foram realizados.

Cogumelos com psilocibina são os psicodélicos mais usados, segundo um relatório do grupo de pesquisa apartidário Rand. A estimativa é de que 8 milhões de pessoas tenham usado a substância nos EUA em 2023 — metade delas relatou uso em microdosagem na ocasião.

Matt Metzger, veterano de combate do Corpo de Fuzileiros Navais, exibe cogumelos Psilocybe

AP/Lindsey Wasson

Cautela com a microdosagem

Mesmo os defensores da prática alertam: os efeitos de longo prazo ainda não foram estudados em humanos.

Outros riscos incluem produtos não regulamentados de procedência duvidosa, que podem conter substâncias nocivas, além do perigo de consumo acidental em doses elevadas, o que pode causar experiências indesejadas.

A organização sem fins lucrativos Fireside Project oferece suporte telefônico gratuito para pessoas durante experiências psicodélicas e já recebeu centenas de ligações sobre microdosagem.

“As pessoas podem ligar apenas para processar sua experiência”, afirmou Josh White, fundador do projeto, que microdosa LSD e a planta iboga para “continuar a aprofundar o conhecimento sobre minha vida” adquirido em uma experiência psicodélica completa.

Balazs Szigeti, da Universidade da Califórnia em São Francisco, que estuda microdosagem, afirma que ela pode ser uma forma de aproveitar o efeito placebo a favor do bem-estar.

“É como uma profecia autorrealizável”, diz Szigeti. “Pessoas interessadas em microdosagem devem experimentar — mas apenas se estiverem entusiasmadas, se tiverem uma expectativa positiva em relação aos benefícios.”

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