Cinco acusados respondem por 4 tentativas de homicídio, adulteração de veículo, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Dois acusados estão presos e três, foragidos. Polícia tenta identificar mandantes do crime contra José Aprigio em 2024 em Taboão da Serra, Grande SP. Prefeito Aprigio foi baleado no ombro após tiro perfurar vidro blindado de carro.
Reprodução/ José Antonio Teixeira/Alesp / Arquivo pessoal
A Justiça de São Paulo decidiu tornar réus os atiradores e intermediários do falso atentado político a tiros que, durante a campanha eleitoral do ano passado, feriu e quase matou José Aprigio (Podemos), então prefeito de Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
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Ao todo, cinco acusados respondem por quatro tentativas de homicídio qualificado (por motivo torpe, recurso que dificultou a defesa das vítima, com emprego de arma de uso restrito e perigo comum por colocar mais vidas em risco), adulteração de veículo, associação criminosa. Um dos réus ainda foi acusado por lavagem de dinheiro.
Dois dos réus estão presos preventivamente e outros três seguem foragidos e são procurados (saiba abaixo quem são).
A Polícia Civil ainda apura quem mandou cometer os crimes em 18 de outubro de 2024. A suspeita da investigação é a de que pessoas ligadas ao grupo político de Aprigio planejou o ataque fake contra o prefeito. Segundo o Ministério Público (MP), o objetivo era o de tentar alavancar a candidatura dele, que buscava a reeleição e havia tido menos votos do que o seu concorrente no primeiro turno.
De acordo com a acusação feita pelo promotor Juliano , Gilmar de Jesus Santos, Odair Júnior de Santana e Jefferson Ferreira de Souza participaram da execução do crime.
Gilmar e Odair são apontados como os atiradores que usaram um fuzil AK-47, de origem russa, para atirar no carro blindado onde estavam Aprigio, seu motorista, um videomaker e um secretário municipal. Seis tiros perfuraram a lataria e vidro do veículo. Dois disparos atingiram a clavícula e ombro esquerdo do político. Ele foi internado e sobreviveu.
Os outros ocupantes do automóvel não se feriram. O videomaker filmou Aprigio ferido e sangrando dentro do carro. Em menos de 30 minutos, a equipe do prefeito havia divulgado à imprensa um vídeo editado do ataque que viralizou nas redes sociais e virou notícia na mídia. Apesar da divulgação do caso, o prefeito não foi reeleito. Perdeu a disputa para Engenheiro Daniel (União Brasil).
Jefferson o responsável por auxiliar Gilmar e Odair na fuga, de acordo com o MP. Todos estavam dentro de um carro vermelho adulterado que foi incendiado para tentar apagar vestígios.
Preso delatou farsa
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Gilmar está preso. Odair e Jefferson estão foragidos e são procurados pelas autoridades. Gilmar chegou a fazer uma colaboração premiada na Justiça, na qual confessou participar do crime e delatou quem mais participou da farsa. Em troca, ele terá um abatimento da pena no caso de condenação. O g1 e Fantástico tiveram acesso ao vídeo da delação (veja acima).
"O combinado do que ele [Aprigio] queria, era um 'susto', mas um 'susto' que desse mídia pra poder passar no Fantástico, pra poder chamar atenção do eleitor. Tipo, como ele sofreu um atentado", fala Gilmar na filmagem. "O prefeito sabia."
O programa dominical da TV Globo não mostrou o ataque à época.
Ainda de acordo com o MP, Anderson da Silva Moura, o "Gordão", e Clóvis Reis de Oliveira são os intermediários que contrataram os executores para o falso atentado. Anderson também responde pelo crime de lavagem de dinheiro. Ele está preso preventivamente, mas negou qualquer envolvimento no caso. Clóvis está foragido e é procurado.
Segundo a Promotoria, Gilmar, Odair, Anderson e Clóvis receberiam R$ 500 mil pelo atentado fake. Esse dinheiro seria dividido entre eles.
O g1 não conseguiu localizar as defesas dos cinco réus para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.
Polícia investiga possíveis mandantes
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Entre os suspeitos investigados pela polícia e pelo MP de serem possíveis mandantes do falso atentado estão o próprio ex-prefeito Aprígio e três então secretários dele à época. Até o momento nenhum deles foi responsabilizado por algum tipo de crime no caso.
Em 17 de fevereiro de 2025 o MP e a Polícia Civil fizeram a "Operação Fato Oculto", na qual apreenderam R$ 300 mil na casa de Aprigio.
Por meio de nota, a defesa do político negou qualquer envolvimento do ex-prefeito no atentado falso e comentou que o valor encontrado na residência dele é legal e foi devolvido.
"A defesa de José Aprígio da Silva, vem reiterar a sua confiança e de seu cliente no trabalho da polícia civil e do ministério público na elucidação dos fatos envolvendo o atentado que sofrera no dia 18 de outubro de 2024. Reafirma a condição de vítima de José Aprígio que, como dito em outras oportunidades, por pouco não teve a sua vida ceifada com tiro de armamento de grosso calibre. A defesa esclarece também que até o momento não se tem notícia de nenhuma prova concreta que indique a efetiva participação de seu cliente na suposta “armação” apontada na colaboração premiada e na denúncia ofertada pelo Ministério Público. É bom lembrar, ainda, que José Aprígio não figura como réu na referida denúncia. Por fim, com relação à quantia que havia sido apreendida pelas autoridades, a defesa comprovou a licitude do dinheiro, tanto que o valor foi liberado pela Justiça", informa o comunicado divulgado por seu advogado, Allan Mohamed Melo Hassan.
Aprigio chegou a gravar vídeo de dentro do hospital para comentar o tiro que o atingiu no ombro
Reprodução/Arquivo pessoal