G1

História com personagens LGBTQIA+ leva pais a solicitar intervenção da Suprema Corte por motivos religiosos em Maryland (EUA)


Pais argumentam que as escolas públicas não podem obrigar as crianças a participar de aulas que violem sua fé. Advogados afirmam que os livros abordam os mesmos temas encontrados em histórias clássicas como Branca de Neve, Cinderela e Peter Pan. Imagens dos livros "O Casamento do Tio Bobby", "Nascido Pronto", "Com Amor, Violeta" "Aliados da Intersecção" e "Príncipe e Cavaleiro", que causam polêmica entre pais de alunos nos EUA. Obras com personagens LGBTQ que fazem parte de um caso da Suprema Corte são retratados na terça-feira, 15 de abril de 2025, em Washington.

ASSOCIATED PRESS

Um príncipe laça um dragão, salvando um cavaleiro de armadura brilhante da morte certa. Mas o príncipe escorrega e, ao cair, o cavaleiro e seu corcel correm para retribuir o favor. Os dois homens, então, se apaixonam.

A história, "Príncipe e Cavaleiro", é um dos cinco livros infantis com personagens LGBTQIA+, voltados para o jardim de infância até a quinta série, que agitaram um distrito escolar diverso no subúrbio de Maryland e levaram a um caso na Suprema Corte que os juízes ouvirão na terça-feira (22).

Pais do Condado de Montgomery, que se opõem por motivos religiosos, querem tirar seus filhos das aulas do ensino fundamental que usam os livros.

O sistema escolar do condado recusou e os tribunais inferiores concordaram até agora.

Mas o resultado pode ser diferente em um tribunal superior dominado por juízes conservadores que têm repetidamente endossado alegações de discriminação religiosa nos últimos anos.

Os pais argumentam que as escolas públicas não podem obrigar as crianças a participar de aulas que violem sua fé. Eles apontam para cláusulas de exclusão na educação sexual e observam que o distrito inicialmente permitiu que os pais retirassem seus filhos quando os livros de histórias estavam sendo ensinados, antes de mudar abruptamente de ideia.

“É rotulado como um programa de artes da linguagem, sabe, de leitura e escrita, mas o conteúdo do material é muito sexual”, disse Billy Moges, membro do conselho do grupo de pais Kids First, formado em resposta à inclusão dos livros no currículo. “Ele está ensinando sexualidade humana e está confundindo as crianças, e os pais não se sentem confortáveis em expor seus filhos a essas coisas tão cedo.”

✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp

Dezenas de pais testemunharam em audiências do conselho escolar sobre suas obrigações religiosas de manter seus filhos pequenos, influenciáveis, longe de aulas sobre gênero e sexualidade que conflitassem com suas crenças.

Moges disse que tirou suas três filhas, agora com 10, 8 e 6 anos, das escolas públicas como resultado. Elas foram inicialmente educadas em casa e agora frequentam uma escola cristã particular, disse ela.

O sistema escolar se recusou a comentar, citando o processo em andamento. Mas, em documentos judiciais, os advogados das escolas escreveram que os poucos livros de histórias não são materiais de educação sexual, mas "contam histórias cotidianas de personagens que vivenciam aventuras, confrontam novas emoções e lutam para se fazer ouvir". Os livros abordam os mesmos temas encontrados em histórias clássicas como Branca de Neve, Cinderela e Peter Pan, escreveram os advogados.

Em "O Casamento do Tio Bobby", uma sobrinha se preocupa que seu tio não tenha tanto tempo para ela depois de se casar. Seu parceiro é um homem.

"Com Amor, Violeta" aborda a ansiedade de uma garota em presentear outra garota com um presente de Dia dos Namorados.

"Nascido Pronto" é a história da decisão de um garoto transgênero de compartilhar sua identidade de gênero com sua família e o mundo.

"Aliados da Intersecção" descreve nove personagens de diferentes origens, incluindo um que é gênero fluido.

Os livros foram escolhidos "para representar melhor todas as famílias do Condado de Montgomery" e os professores não podem usá-los "para pressionar os alunos a mudar ou a mudar ou repudiar visões religiosas", disseram os advogados das escolas.

O sistema escolar abandonou a opção de permitir que os pais tirassem seus filhos das aulas porque isso "se tornava extremamente perturbador", disseram os advogados ao tribunal.

O grupo de escritores Pen America, que relatou a proibição de mais de 10.000 livros no último ano letivo, afirmou em um processo judicial que o que os pais desejam é "uma proibição constitucionalmente suspeita de livros com outro nome".

A dificuldade de oferecer aulas alternativas para algumas crianças sempre que os livros forem usados provavelmente forçaria o condado a retirá-los do currículo, disse Tasslyn Magnusson, consultora sênior do programa Liberdade de Leitura da PEN America.

"Espero mesmo que as pessoas leiam esses livros. Eles são exemplos encantadores de experiências que as crianças têm na escola e são livros de histórias perfeitamente adequados para fazer parte de um currículo educacional", disse Magnusson.

Um livro que originalmente fazia parte do currículo e depois foi retirado por motivos inexplicáveis é "My Rainbow", coescrito pela deputada estadual de Delaware, DeShanna Neal, e sua filha, Trinity.

A história fala sobre o desejo de Trinity por cabelos longos como uma garota transgênero e a solução encontrada por sua mãe: tricotar uma peruca de arco-íris.

Neal se acostumou a ter o livro retirado de circulação em bibliotecas, inclusive na Flórida, Ohio e Texas.

"A escola é um lugar para aprender sobre por que o mundo é diferente e como ele é diferente", disse Neal. "O que eu esperava que resultasse deste livro era: ouçam seus filhos. Eles conhecem seus próprios corpos."

LEIA TAMBÉM:

Suprema Corte dos EUA revisará proibição de 'terapias de conversão' para menores LGBTQIA+

Trump remove termos como gay, lésbica, transgênero, bissexual e LGBTQ dos sites da Casa Branca e de agências federais

Suprema Corte dos EUA permite que empresa recuse atendimento a casais do mesmo sexo

Pesquisa mostra que 86% dos adolescentes LGBTQIA+ não se sentem seguros na escola

Anunciantes

Baixe o nosso aplicativo

Tenha nossa rádio na palma de sua mão hoje mesmo.